Pacientes neurocirúrgicos estão sujeitos a várias complicações clínicas. Estas estão diretamente relacionadas a má evolução do paciente. Algumas delas são ressaltadas neste tópico.
- Insuficiência respiratória
- Relacionado a piora importante do prognóstico, por aumento do dano cerebral;
- Causa/aumenta edema cerebral e consequentemente a pressão intracraniana;
- Atenção para falência respiratória neurogênica, decorrente de lesões do tronco cerebral, medula cervical ou nervo frênico.
- Atelectasia pulmonar
- Complicação frequente de cirurgia e anestesia;
- Piora as trocas gasosas, aumenta o esforço respiratório e risco de infecção;
- Prevenção: assentar o paciente e fisioterapia respiratória (respiração profunda e tossir);
- Tratamento: mobilizar secreção, recrutamento de áreas colapsadas, pressão positiva expiratória final (PEEP)
- Aspiração
- Alto risco em pacientes neurocirúrgicos devido a alteração do nível de consciência, disfunção bulbar ou manipulação/lesão de nervos cranianos baixos (IX, X, XII pares cranianos);
- Avaliação fonoaudiológica é fundamental em pacientes neurocirúrgicos;
- Pneumonite química – se o aspirado é estéril;
- Pneumonia – se o aspirado contém patógenos – antibioticoterapia de amplo espectro;
- Avaliar intubação traqueal se houver risco elevado de aspiração.
- Pneumonia
- Trauma crânioencefálico, AVC e cirurgia neurológica são preditores independentes para pneumonia nosocomial ou associada a ventilação mecânica;
- Manter vigilância constante. Atenção para curva térmica, leucocitose, infiltrado em Rx de tórax, hipoxemia, aumento do esforço respiratório e alteração do escarro;
- Antibiótico inicialmente de amplo espectro, depois ajustado com a cultura
- Edema pulmonar neurogênico
- Diagnóstico de exclusão;
- Caracterizado pelo acúmulo rápido de exudato alveolar rico em proteína;
- Pode ocorrer após qualquer insulto neurológico, porém mais comum após: traumatismo crânio encefálico (TCE), trauma raquimedular (TRM), hemorragia intracraniana e lesão de tronco cerebral;
- Patogênese: aumento da permeabilidade vascular pulmonar e diminuição da complacência do ventrículo cardíaco esquerdo, decorrente de alteração simpática transitória;
- Infiltrado bilateral no Rx de tórax;
- Aumento do gradiente alvéolo-arterial de O2;
- Manejo: ventilação mecânica, suporte de O2 e PEEP.
- Embolia pulmonar
- Risco bastante aumentado devido ao elevado grau de imobilidade dos pacientes, principalmente na presença de plegia em membros inferiores;
- Prevenção: meias de compressão pneumática e anticoagulação profilática (ver em tópico específico);
- Manejo: suporte respiratório e anticoagulação (ver em tópico específico).
- Hipertensão arterial
- Ocorre em 30 a 80% dos pacientes após craniotomia;
- Causas comuns: dor, ansiedade, tremores, distenção vesical, depressão respiratória (hipercapnia e hipóxia);
- Atenção para o fato de a hipertensão arterial poder ser secundária a PIC elevada;
- Aumenta o risco de sangramento no sítio cirúrgico;
- Pacientes neurocirúrgicos podem apresentar disfunção da autoregulação regional ou global, logo pequenos aumentos da pressão arterial (PA), podem aumentar significativamente o fluxo sanguíneo cerebral e a PIC;
- Manejo: redução pressórica gradual para não afetar os mecanismos da autoregulação cerebral;
- Os agentes de primeira linha são os antagonistas β-adrenérgicos (labetolol, esmolol e metaprolol);
- Segunda linha: hidralazina, nicardipina e nitroprussiato – podem dilatar a vasculatura cerebral e aumentar a PIC, porém os riscos de hipertensão arterial não controlada e sangramento intracraniano, superam os riscos da vasodilatação induzida por drogas.
- Hipotensão
- Incomum após craniotomias (2 a 5%);
- Merece atenção por poder comprometer a perfusão cerebral, com dano cerebral irreversível.
- Causas:
– Perda de volume: sangramento, diurese osmótica, reposição volêmica inadequada, diabetes insipidus;
– Disfunção cardíaca: disfunção neurogênica (liberação exagerada de catecolaminas, alterando a relação de demanda e oferta de O2 para o miocárdio);
– Vasodilatação periférica exacerbada: choque neurogênico por lesão medular (bradicardia, hipotensão e baixa resistência periférica).
Referências:
- Bhardwaj, Anish, Mirski, Marek A., Ulatowski, John A.; Handbook of Neurocritical Care, 1st ed, Humana Press Inc., 2004.
- Suarez JI, Critical Care Neurology and Neurosurgery. Totowa, NJ: Humana Press, 2004
- Greenberg, Mark. Handbook of Neurosurgery. 7th ed. Thieme; 2010.